A Igreja do Senhor
Não é possível superestimar a importância da igreja para Cristo, nem para a história. Jesus comprou a igreja com seu sangue (At 20.28), ama, cuida e a edifica (Mt 16.18; Ef 5.25,29) e a apresentará imaculada para sua glória (Ef 5.27).
• O SIGNIFICADO DA PALAVRA ‘IGREJA’
A palavra igreja vem do termo grego ekklesia, que significa “assembleia de cidadãos” (At 19.32,41). A Septuaginta traduz como ekklesia a palavra hebraica qahal, que também significa assembleia, reunião ou congregação (Ex 35.1; Dt 31.30). Somente no decorrer da vida da igreja é que a palavra ekklesia passou a designar a “assembleia de fiéis”.
• O CONCEITO DE ‘IGREJA’
No Novo Testamento a palavra igreja está ligada a dois conceitos:
a) Igreja universal – A igreja é a comunidade dos crentes em Cristo (Ef 1.1), comprada, fundada, protegida, edificada e dirigida por ele (Mt 16.18; At 20.28). Ela se reúne para cultuar o Deus Trino (At 13.1-2), sustentar com firmeza a verdade revelada (1Tm 3.15), observar as ordenanças do Senhor (batismo e ceia), nutrir a amorosa, edificante e pura comunhão entre os irmãos (At 2.42-47) e proclamar a salvação ao mundo (1Pe 2.9), tudo com o propósito final de promover a glória de Deus (Ef 3.21).
b) Igreja local – A igreja também pode ser definida como o grupo de eleitos reunidos e organizados numa determinada localidade (1Pe 1.1) que, tendo a Sagrada Escritura como autoridade máxima (2Tm 3.16) e sob a influência do Espírito Santo, promove a expansão geográfica, numérica e cultural do Reino de Deus neste mundo (At 9.31).
A Singularidade da Igreja
A igreja é um grupo singular sobre o qual o Senhor disse: “Edificarei minha igreja” (Mt 16.18). Para melhor compreendermos tal afirmação, é preciso entender a singularidade da igreja, seu relacionamento com outros grupos e seu lugar dentro da história e do plano de Deus.
• A IGREJA E O REINO
Uma grande dúvida entre os cristãos é como a igreja se relaciona com o “reino de Deus”. Isso decorre do fato de haver mais de um aspecto do reino descrito nas Escrituras.
a) O reino universal – Deus governa o mundo todo (1Cr 29.11; Sl 145.13) e escolhe governantes para julgar o mundo (Dn 2.37). Assim, Deus reina sobre todas as nações (Ap 15.3) e, no final, todas se submeterão a ele e capitularão diante do seu poder (Sl 110.5,6). A igreja faz parte desse reino porque tudo está sobre o controle soberano de Deus sem que haja distinções ou que entidades sejam independentes da soberania do Senhor;
b) O reino davídico/messiânico – Esse reino se chama davídico porque diz respeito às promessas feitas a Davi (2Sm 7.11-16) e messiânico porque Jesus, o Messias, reinará sobre o trono de Davi, governando a nação de Israel (Lc 1.32,33). A Igreja não faz parte desse reino que será instituído no futuro (milênio), com a volta de Cristo, e cujos súditos são os israelitas que serão restaurados à totalidade da terra prometida a Abraão. Nessa época, a igreja glorificada reinará com Cristo (2Tm 2.12; Ap 5.9,10);
c) O reino espiritual – Refere-se ao reino em que os cristãos foram inseridos a partir do novo nascimento (Cl 1.13; Ap 1.6) e onde Cristo reina sobre a igreja sendo sua cabeça. Esse reino tem características que o distinguem dos do restante do mundo (Rm 14.17; 1Co 4.20);
d) O reino eterno – Esse é também um aspecto futuro do reino. Não está ligado a um governo terreno, mas à comunhão e habitação com Deus e à vida eterna (2Tm 4.18; Tg 2.5; 2Pe 1.11). Todos os que tiveram fé e foram perdoados por Deus durante toda a história humana, incluindo a igreja, irão entrar nesse reino. A igreja ainda aguarda para entrar nesse reino (At 14.22).
• A IGREJA E ISRAEL
A igreja é distinta de Israel e teve seu início apenas no Pentecostes. Nos dias de Jesus, ela era algo a existir no futuro (Mt 16.18). O contraste entre a igreja e Israel é nítido no Novo Testamento, após a fundação da igreja. A distinção entre o Israel natural12 e a igreja revela que não são a mesma entidade (1Co 10.32; Gl 6.16).
O texto de Romanos 11 mostra não apenas a distinção entre a Igreja e Israel, mas o plano de Deus para cada um deles. Veja a síntese do capítulo:
• Deus não rejeitou definitivamente Israel (v.1);
• Deus sempre reserva um remanescente fiel em Israel (2-4);
• Pela graça Deus mantém o remanescente (5-6);
• O pequeno remanescente foi eleito enquanto a grande maioria de Israel foi endurecida (7-10);
• Foram rejeitados temporariamente para que os gentios fossem alcançados (11);
• Como sua transgressão redundou em bênção, assim será quando forem "plenos" (12);
• Enquanto Israel está afastado, um pequeno número crê na pregação (13-14);
• Previsão do restabelecimento de Israel como fonte de bênçãos (15);
• Israel é comparado a ramos naturais quebrados e a igreja é comparada a ramos de fora da oliveira (ramos de oliveira brava) que são enxertados (16-17);
• Os cristãos gentios não devem desprezar Israel (18-20);
• Israel caído é ainda chamado de "ramo natural" em contraste com a igreja, "oliveira brava" (21);
• Dispensações diferentes para Israel e a igreja (22);
• Está aberta a via necessária para o retorno de Israel (23);
• Declaração de que a igreja tem uma origem descontinuada com Israel (foi enxertada contra a natureza vindo de uma fonte de outro tipo) e o prenúncio da restauração futura de Israel que, como o ramo natural, será enxertado novamente na videira de onde foi cortada (24).
• Depois disso, todo o Israel será restaurado (26);
• A nova aliança com Israel (Jr 31.31-34) é a garantia do seu perdão (27);
• O amor e a eleição de Deus sobre Israel são perpétuos devido às promessas “irrevogáveis” de Deus (28-29);
• O processo de salvação aplicado à igreja na atualidade será também aplicado a Israel no futuro (30-32);
• Esse plano de atuação de Deus (endurecer Israel para conceder graça aos gentios e, depois de completado o tempo da igreja, voltar a conceder graça a Israel e o restaurar) é algo misterioso e maravilhoso que não podemos compreender plenamente, mas, por ele, glorificamos a Deus (33-36).
Os Tipos de Governo da Igreja
Apesar de a Igreja ser uma assembleia de fiéis onde quer que esteja e de o Novo Testamento não definir exatamente a organização da igreja local, desde o início as igrejas tiveram um sistema organizado e uma liderança (At 14.23; 20.17; 21.18; Fp 1.1; Tt 1.5).
Mesmo demonstrando claramente a existência e função dos líderes na igreja e de sua organização, a Bíblia não especifica como isso deve ser nos mínimos detalhes, fazendo com que diversos tipos de organização eclesiástica existam atualmente. Vamos analisar alguns tipos de governo eclesiástico:
• GOVERNO MÍNIMO
Trata-se de igrejas lideradas por um pequeno grupo de presbíteros, que enfatizam os dons espirituais e minimizam o conceito de membresia. São propensos a um sistema federalista de governo. Na história encontramos exemplos como os quacres e os irmãos de Plymouth. É normalmente o sistema de governo adotado nas atuais “comunidades” e igrejas “neopentecostais”.
• GOVERNO NACIONAL
É um grupo de igrejas organizadas sob a liderança do Estado ou limitada às fronteiras de um país. O Estado pode ou não permitir a existência de outras igrejas no país e sua influência sobre a igreja estatal varia de Estado para Estado. Exemplos são as igrejas Anglicana (Inglaterra) e Luterana (Alemanha e alguns países escandinavos).
Os argumentos em favor da separação entre igreja e Estado são:
a) Cristo fez distinção entre eles (Mt 22.21);
b) Os cristãos têm responsabilidades para com o Estado (Rm 13.1-7; 1Pe 2.13-17; e Tt 3.1);
c) Havendo conflitos entre o povo de Deus e o Estado, há exemplos bíblicos de desobediência civil (Dn 3.6; At 5.29) e resistência pacífica a fim de evidenciar uma injustiça (At 16.37);
d) A ausência absoluta do Estado nos processos de disciplina dentro da igreja (Mt 18.17; 1Co 5; e 2Ts 3.11-15).
• GOVERNO HIERÁRQUICO
Nesse sistema, o clero que toma as decisões está dividido em ordens ou classes, cada uma subordinada a seu superior. Na Igreja Metodista, a hierarquia é menos absolutista. Na Igreja Episcopal, a hierarquia da autoridade é mais destacada. Enquanto na Igreja Católica Romana, a autoridade baseia-se totalmente na hierarquia tendo como autoridade máxima o papa, a Igreja Anglicana combina elementos dos governos nacional e hierárquico.
A ideia se baseia na suposta linha ininterrupta de sucessão dos apóstolos. Entretanto, a Bíblia ensina que os apóstolos tiveram lugar apenas na “fundação” da igreja (Ef 2.20), não existindo mais apóstolos hoje, nem sucessão apostólica. No NT os oficiais da Igreja são apresentados como “bispos” e “diáconos” e fica nítido o fato de as palavras “bispo” e “presbítero” apontarem para a mesma pessoa. Apenas no 2º século o bispo surge como um pastor que supervisiona outros pastores e igrejas. O Didaquê, manual de doutrinas da igreja antiga, instruía cada congregação a escolher seus próprios “bispos” e “diáconos” (Didaquê 5.1).
• GOVERNO FEDERATIVO
O governo federativo ou conciliar se refere a uma unidade que “entrega sua soberania individual a uma autoridade central, mas retém poderes residuais de governo”. Em outras palavras, os membros delegam parte do seu poder aos líderes. Em relação às igrejas locais dentro de uma denominação, significa que elas abrem mão de alguns aspectos da sua autonomia em favor de uma estrutura. O melhor exemplo desses sistemas de governo é a Igreja Presbiteriana, além de alguns grupos reformados que adotam esse sistema. Normalmente envolvem presbitérios, sínodos e assembleias gerais. Na prática da igreja local, as igrejas com governo federativo e congregacional são muito parecidas.
• GOVERNO CONGREGACIONAL
Basicamente, no governo congregacional, a autoridade maior de governo da igreja está sobre os próprios membros. Além disso, cada igreja local é autônoma. Portanto, além de Cristo, não há nenhuma autoridade acima da assembleia da igreja local formada por seus próprios membros. A responsabilidade de cada decisão não precisa ser da assembleia. Ela delega responsabilidades a seus oficiais e líderes, embora eles possuam apenas um voto nas decisões da congregação. Apesar da autonomia, as igrejas podem se unir a fim de cooperarem com um objetivo comum. Exemplo de igrejas de governo congregacional são as igrejas Batista e Congregacional.
Os argumentos de apoio para essa visão são:
a) Embora os apóstolos e seus auxiliares exercessem autoridade sobre mais de uma igreja local, o mesmo não acontecia com os presbíteros e diáconos. Na inexistência atual de apóstolos, cada igreja local é autônoma;
b) A igreja inteira recebeu o poder de exercer a disciplina e não somente os líderes (Mt 18.17; 1Co 5.4,5; 2Co 2.6,7; 2Ts 3.14,15);
c) A igreja inteira estava envolvida na escolha dos líderes (At 1.23,26; 6.3,5; 15.22,30; 2Co 8.19);
d) Várias passagens comissionam a igreja toda e não apenas os líderes (Mt 28.19,20 [1]; 1Co 11.2,20);
e) O sacerdócio de todos os cristãos colabora para o conceito de um governo democrático e congregacional (1Pe 2.5,9).
A Liderança da Igreja
Independente do tipo de governo que as igrejas tenham, é inegável a necessidade de líderes. Sempre foi assim desde o início da igreja: O NT mostra que havia líderes na Judeia (At 11.29,30), Paulo instituiu líderes na Galácia (At 14.23), os líderes da igreja se reuniram em Jerusalém (At 15) e havia presbíteros e diáconos nas igrejas (At 20.17; e Fp 1.1).
• TIPOS DE LÍDER
Apesar de o NT mencionar presbíteros e diáconos na liderança das igrejas, nem todas as denominações adotam essa divisão. Textos bíblicos que falam muito sobre o assunto são Tito 1 e 1Timóteo 3. Esses dois textos demonstram que as palavras “presbítero” e “bispos” (supervisores) são termos intercambiáveis e se referem à mesma pessoa. Outras evidências dessa realidade são:
a) Paulo usa os dois termos se referindo às mesmas pessoas no mesmo parágrafo (Tt 1.5-7);
b) Paulo chama os presbíteros de Éfeso de “bispos” (At 20.17,28);
c) Em 1Tm 3.1-13 e Fp 1.1, Paulo cita apenas bispos e diáconos, sem se referir a presbíteros, embora 1Tm 5.17 os identifique na igreja.
• MINISTÉRIO DOS PRESBÍTEROS
Os deveres dos presbíteros são:
a) Governar – O presbítero deve liderar (1Tm 5.17; Hb 13.17), não como dominador, mas sem perder a autoridade (1Pe 5.3; Hb 13.7);
b) Guardar a verdade – Proclamar e explicar as doutrinas reveladas nas Escrituras (Tt 1.9), buscando ser capacitado para tanto (1Tm 3.2);
c) Ter um bom caráter – As qualificações necessárias ao caráter do presbítero, conforme 1Tm 3.1-7 e Tt 1.5-9, são:
1. Irrepreensível;
2. Marido de uma esposa;
3. Temperante;
4. Sóbrio;
5. Modesto;
6 Hospitaleiro;
7. Apto para ensinar;
8. Não dado ao vinho;
9. Não violento;
10. Amável;
11. Inimigo de contendas;
12. Não ganancioso;
13. Não irascível;
14. Governar bem o lar;
15. Não orgulhoso;
16. Não inexperiente;
17. De bom testemunho.
Os presbíteros eram escolhidos e investidos nessa função, nos dias do NT, quando eram fundadas novas igrejas (At 14.23; Tt 1.5). Os apóstolos, os presbíteros e a congregação participavam desse processo. Exemplos disso são:
1) Paulo e Barnabé tiveram a imposição de mãos13 da igreja e foram enviados (At 13.3);
2) Os presbíteros impuseram as mãos sobre Timóteo (1Tm 4.14);
3) Tito nomeou presbíteros em Creta (Tt 1.5);
4) Paulo alertou sobre a imposição precipitada de mãos (1Tm 5.22).
• MINISTÉRIO DOS DIÁCONOS
A palavra diácono (διάκονος) quer dizer ministro ou servo. A diaconia (διακονία) – serviço – é um ministério geral que pode ser oficial ou não. Entretanto, a Bíblia especifica as qualificações de homens que assumiam um cargo oficial na igreja com o nome de diácono (Fp 1.1). Tais qualificações são semelhantes e paralelas às do presbítero (1Tm 3.8-13).
As Ordenanças da Igreja
Ordenanças são ordens dadas por Cristo à Igreja com a intenção de lembrar e simbolizar verdades fundamentais. Diferente do conceito de “sacramento”, as ordenanças não têm a intenção de serem veículos de graça. Apesar das diferenças entre diversas denominações no que tange à intenção e número das ordenanças, cremos que são identificadas como ordenanças o batismo e a ceia.
• O BATISMO
A palavra batismo vem do grego baptisma (βάπτισμα) e baptizo (βαπτίζω), que significa imergir, submergir. Assim, ele deve ser feito pela imersão total do crente na água (Mt 3.16; Jo 3.23; At 8.36-39). O batismo deve ser ministrado somente a adultos ou, eventualmente, a crianças que já entenderam e aceitaram o evangelho. O batismo por imersão atinge os quatro objetivos do batismo:
a) A profissão pública de fé – objetivo principal – (1Pd 3.21);
b) A identificação do batizando com os demais discípulos de Jesus (Mt 28.19);
c) A representação da lavagem espiritual (At 22.16 cf. 1Co 6.11);
d) A representação da morte do crente para o mundo e de sua ressurreição para uma nova vida (Rm 6.4; Cl 2.12).
O batismo tem seu significado associado às ideias de:
1) Perdão (At 2.38; 22.16);
2) União com Cristo (Rm 6.1-10);
3) Fazer discípulos (Mt 28.19);
4) Arrependimento (At 2.38).
O Novo Testamento apresenta o batismo rendendo-lhe uma posição importante que pode ser notada nos textos abaixo:
a) O batismo de Jesus (Mt 3.16);
b) A orientação de Cristo para o batismo dos seus discípulos (Jo 4.1-3);
c) A ordem de Cristo para que a igreja batizasse os futuros discípulos (Mt 28.19);
d) Lugar de destaque na vida da igreja primitiva (At 2.38,41; 8.12,13,36; 9.18; 10.47,48; 16.15,33; 18.8; 19.5);
e) O NT usa para retratar ou simbolizar verdades teológicas importantes (Rm 6.1-10; Gl 3.27; 1Pe 3.21).
• A CEIA DO SENHOR
A Ceia do Senhor é uma ordenança dada pelo Senhor Jesus Cristo cuja validade dura até seu retorno para os seus. Trata-se de um “memorial” em que, de modo algum, o corpo e sangue de Cristo estão presentes nos elementos da ceia, nem tampouco é esse um momento revestido de qualquer misticismo.
As principais visões sobre a Ceia do Senhor são:
a) Transubstanciação (católicos romanos) – Pão e vinho, literalmente, transformam-se em corpo e sangue de Cristo. Os que os recebem participam de Cristo, que é sacrificado para reconciliação de pecados;
b) Consubstanciação (luteranos) – Pão e vinho contêm o corpo e o sangue de Cristo. Não há uma transformação literal, mas a presença de Cristo se dá em sentido real. Cristo está presente “em, com e sob” os elementos. Os participantes recebem perdão de pecados e confirmação da sua fé por meio da participação nos elementos. Mesmo os descrentes são beneficiados por ela;
c) Presença espiritual (presbiterianos) – Cristo não está literalmente presente nos elementos, mas há uma presença espiritual. Os participantes recebem graça pela participação, porém, não pelos elementos e sim por meio da fé. Sem benefícios para incrédulos;
d) Memorial (batistas) – Os elementos são pão e vinho somente. Cristo não está especialmente presente, nem física, nem espiritualmente. Sua presença é a mesma experimentada costumeiramente pela sua igreja. É um memorial realizado pelos participantes. Simboliza Cristo e sua morte, não seu corpo literal. Nenhuma graça é transmitida.
Por que cremos que a Ceia do Senhor é um ‘MEMORIAL’?
1) Porque a expressão “isto é meu corpo” (Mt 26.26; 1Co 11.24) é uma figura de linguagem (metáfora) que na verdade quer dizer “isto simboliza meu corpo”. Esse é o mesmo modo de interpretar expressões como “eu sou o pão da vida” ou “eu sou o pão vivo que desceu dos céus” (Jo 6.48,51), “eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), “eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10.7,9) e “eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1).
Tomar literalmente “isto é meu corpo” trará também grandes dificuldades para interpretarmos frases como “porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão” (1Co 10.17);
2) Quando Jesus disse “isto é meu corpo”, a Bíblia diz que ele “tomou um pão” (Mt 26.26; Mc 14.22; Lc 22.19). Nessa ocasião, o corpo real de Jesus segurava o pão em vez de integrá-lo;
3) Porque, apesar da onipresença divina, o corpo de Cristo foi elevado aos céus (At 1.9,11; 7.55, 56) e haverá uma presença corporal de Jesus na Terra apenas na sua segunda vinda (At 1.11; Lc 21.27; e 1Ts 1.10) de modo que seu corpo não está presente na terra no momento da ceia;
4) O texto de 1Co 10.16, usado para defender uma suposta presença especial de Cristo na ceia, não tem por intenção tratar a forma da Ceia do Senhor (visto que Paulo ainda falaria sobre isso adiante no capítulo seguinte), mas pretende apresentar a participação da ceia como integração no culto do Senhor, assim como os israelitas participaram do culto de Baal-Peor pelo contato com as mulheres midianitas e como os crentes de Corinto teriam parte em um culto idólatra se participassem de refeições em templos pagãos (1Co 10.1-22).
O que é a Ceia do Senhor na ‘visão memorial’?
a) É uma recordação da morte de Cristo (1Co 11.24,25) – O pão simboliza seu corpo oferecido em sacrifício (1Pe 2.24) e o cálice simboliza seu sangue derramado para o perdão dos pecados (Ef 1.7) na cruz do Calvário;
b) É uma proclamação da morte de Cristo enquanto se espera sua vinda (1Co 11.26) – Volta os olhos dos participantes para o retorno futuro de Cristo (Mt 26.29);
c) É uma comunhão entre os crentes (1Co 10.17) – É uma refeição que concentra a fé comum dos participantes em Cristo.