A Escatologia e as Posições Escatológicas
• SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA DA ESCATOLOGIA
Escatologia é o estudo das “últimas coisas”, ou seja, que estão reservadas para o futuro do homem e do mundo. Trata, basicamente, do período do arrebatamento, das ressurreições, da tribulação, da volta de Cristo, do milênio e do juízo final.
Assim como outras áreas da Teologia, a escatologia é bastante complexa e apresenta inúmeras dificuldades. Isso faz com que muitos considerem seu estudo de importância secundária, mas essa é uma visão inexata.
Objetivos do estudo da escatologia pelos crentes:
• Oferecer alegria em meio à aflição (2Co 4.17; 1Ts 4.18);
• Encorajar a viver em santidade (1Jo 3.3);
• Ajudar no ensino e na correção dos crentes, já que faz parte das Escrituras (2Tm 3.16,17);
• Fornecer informações sobre a vida futura (2Co 5.8).
• VISÃO PÓS-MILENISTA
Consiste na crença de que o “milênio” deve ser um período indefinido de tempo na própria era em que vivemos, sendo que Jesus voltará ao final desse período. A. H. Strong, em seu livro Teologia Sistemática, esse milênio seria:
“Um período, nos dias finais da igreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos mártires deverá ressurgir, a verdadeira religião será grandemente estimulada e revivida, e os membros das igrejas de Cristo ficarão tão conscientes da sua força em Cristo que chegarão a uma abrangência antes desconhecida e triunfarão sobre o poder do mal tanto dentro quanto fora dela.”
Para os pós-milenistas, um “período dourado” de paz e harmonia se instalará nos últimos dias da nossa era, quando os cristãos serão dominantes no mundo e Satanás estará amarrado de uma maneira especial. Esse período será encerrado pela volta de Jesus e seguido da ressurreição e dos julgamentos.
Quanto às alianças e promessas não cumpridas ainda em relação a Israel (que os dispensacionalistas afirmam que serão cumpridas no milênio), os pós-milenistas dizem estar sendo cumpridas hoje com a igreja (para os pós-milenistas, não há distinção entre Israel e igreja e a igreja atual é o Israel de Deus).
Essa posição cresceu, principalmente na segunda metade do segundo milênio, devido aos avanços obtidos pelos homens. Acabou por perder força após as guerras mundiais.
• VISÃO AMILENISTA
O amilenismo defende a inexistência de um “milênio” antes do fim do mundo. Postula que haverá sempre dois reinos, o de Deus e o pertencente a Satanás, até que Jesus volte e promova a ressurreição e o juízo. Quanto ao milênio em si, alguns amilenistas pensam se tratar do que a igreja vive hoje na Terra, enquanto outros acham que se trata da realidade dos santos atualmente no céu.
No tocante às alianças e promessas não cumpridas ainda em relação a Israel, os amilenistas dizem que elas não precisam se cumprir, pois eram promessas “condicionais”. Para tanto, o amilenismo utiliza, principalmente, uma hermenêutica fundamentalmente “alegórica” para interpretar os profetas do AT.
Importante: Nem o pós-milenismo, nem o amilenismo creem em um reinado futuro de Cristo na Terra.
• VISÃO PRÉ-MILENISTA
É a visão que afirma que a Segunda Vinda de Cristo se dará antes do milênio. Isso abrirá o cronômetro para um período de tempo de mil anos nos quais Cristo vai reinar. Também entende que haverá nesse período, além de juízos, ressurreições. Terminará com o Grande Trono Branco, o juízo final. Dentro dessa visão há certa discordância sobre quando ocorrerá o arrebatamento da igreja.
Para que alguém seja pré-milenista, é imperativo que creia firmemente na Bíblia como a Palavra de Deus inspirada e inerrante e utilize uma interpretação normal ou literal das Escrituras, também chamada de interpretação histórico-gramatical.
Quanto às alianças e promessas não cumpridas ainda em relação a Israel, os pré-milenistas creem que serão todas cumpridas durante o milênio, quando Cristo reinará na Terra (2Sm 7.11-16), restaurará a nação de Israel (Jr 31.31-34; Ez 36.24-36) e lhe dará a terra prometida a Abraão (Gn 15.18-21) e que nunca foi antes “plenamente” possuída pelos israelitas – notar que o texto indica como limite Norte o rio Eufrates, o que significa que essa terra incluirá o território do Líbano e um pedaço da Síria.
Os pré-milenistas fazem distinção entre Israel e a igreja. Para eles, Deus tem planos históricos para cada um deles.
AS ALIANÇAS INCONDICIONAIS DE DEUS COM ISRAEL
a) Aliança Abraâmica — Promessa da TERRA a Abraão (Gn 12.1-3; 15.18-21).
b) Aliança Davídica — Promessa de um TRONO perpétuo a um descendente do Davi (2Sm 7.11-16).
c) Nova Aliança — Promessa de um novo TRATO com Deus por meio da conversão nacional (Jr 31.31-34; Ez 36.24-36; Jl 2.28-32).
Os Últimos Dias
• O QUE SÃO “OS ÚLTIMOS DIAS”?
O que entendemos na Bíblia pela expressão “últimos dias” é que não se trata apenas dos dias imediatos que antecedem o arrebatamento da igreja, mas de toda a era da “Igreja Cristã”.
Assim, os limites (início e final) dos “últimos dias são”:
• Início com o Pentecostes (Atos 2);
• Fim com o arrebatamento da igreja, que envolve a ressurreição dos salvos e arrebatamentos dos crentes vivos (1Ts 4.13-17; 1Co 15.51-58).
• EVENTOS QUE ENVOLVEM O FINAL DA ERA DA IGREJA
Apesar de todo esse período compreender os “últimos dias”, algumas situações se intensificarão com o decorrer da história até que a igreja seja arrebatada:
A) O aumento da apostasia — O abandono da fé caracterizará esse período (2Tm 3.1-5).
As características dessa apostasia são:
1) Desvios doutrinários
• Negação da doutrina da Trindade (1Jo 2.22,23);
• Negação da doutrina da encarnação de Cristo (1Jo 2.22; 4.3; 2Jo 7);
• Negação da doutrina da volta de Cristo (2Pe 3.4).
2) Estilo de vida compatível com a apostasia (2Tm 3.1-5; Mt 24.12; 2Pe 2.2).
B) Preparação para a igreja ecumênica — Durante a primeira metade da Tribulação, a igreja ecumênica chegará ao seu apogeu.
As características dessa igreja serão:
1) Abrangência mundial (Ap 17.15);
2) Infidelidade ao Senhor e à verdade (note-se o termo “meretriz” em Ap 17.1,5,15,16);
3) Promoção de grandes alianças políticas (Ap 17.12,13);
4) Perseguição contra os santos da tribulação (Ap 17.6).
C) Falsos Cristos e falsos profetas, guerras e catástrofes — Antes que se inicie a Tribulação, haverá na era da igreja o surgimento de homens que dizem ser o próprio Cristo.
Além de falsos profetas, haverá guerras e ameaças de conflitos internacionais e eventos catastróficos naturais como terremotos, doenças e fomes (Mt 24.3-8,11; Lc 21.11; 2Pe 2.1-3).
D) Perseguição da Igreja — A igreja de Cristo, odiada pelo mundo, será perseguida até a morte em muitos lugares (Mt 24.9,10).
O Arrebatamento da Igreja
• A DEFINIÇÃO DO ARREBATAMENTO
Apesar de a palavra Arrebatamento não constar na Bíblia, sua ideia de “retirada da igreja da Terra” está presente em 1Ts 4.17, derivando da palavra grega ἁρπάζω, que significa “arrancar” (segundo o Léxico, de Strong, significa pegar, levar pela força, arrebatar, agarrar, reivindicar para si mesmo ansiosamente14).
Ao dizer que “os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro” (1Ts 4.16), o texto parece se referir apenas à igreja e não a todos os salvos de todas as eras.
Três passagens falam sobre o Arrebatamento: João 14.1-3; 1Coríntios 15.50-58 e 1Tessalonicenses 4.13-18.
• A VISÃO PRÉ-TRIBULACIONISTA DO ARREBATAMENTO
O Arrebatamento da igreja (tanto dos vivos como dos mortos) ocorrerá antes do período de sete anos da Tribulação, ou seja, antes da 70ª semana de Daniel (Dn 9.24-27).
As razões para a crença nessa posição são:
a) A promessa de preservação “da hora da provação” de Ap 3.10, associada ao anúncio da segunda vinda de Jesus em no v.11b, sugerindo, com muita força, tratar-se do período da Tribulação.
O fato de Jesus não ter voltado na geração da igreja a quem se dirigiu tal promessa demonstra que se trata de uma esperança dirigida a toda a igreja (cf. Ap 3.13). Deve-se notar que o texto de Ap 3.10 não diz que os crentes serão guardados “na provação”, mas “da hora da provação”. Não significa fortalecer durante o sofrimento, mas evitar que se entre nele.
b) Em 1Ts 5.1-11, Paulo afirma que apenas os incrédulos serão alvos do “Dia do Senhor” (v.2), e não os crentes.
Quanto a esses, “Deus não os destinou para a ira” (v.9). Apesar de esse texto poder ser compreendido, no âmbito geral, como a perdição eterna, o contexto imediato trata do juízo terreno chamado “Dia do Senhor”, o qual acometerá de surpresa os perdidos. Esse “Dia do Senhor” é associado ao período da Tribulação, para o qual, segundo o texto, os crentes não foram destinados.
Além disso, o fato de esse texto (1Ts 5.11) ser imediatamente posterior ao que fala do “Arrebatamento” (1Ts 4.13-18), torna mais clara ainda a ideia de que a igreja, por meio do Arrebatamento, será poupada do período da Tribulação para o qual não foi destinada.
c) A completa ausência de menções da igreja nos relatos da Tribulação (Ap 4–19).
Para não basear esse argumento apenas no “silêncio” da Bíblia, é notório o serviço prestado a Cristo naquele período, por parte de judeus, diferente do que ocorre hoje por meio da igreja (Ap 7.4-8; 14.1-5).
d) A menção, em 2Ts 2.1-9, da remoção daquele “que agora o detém” antes do "Dia do Senhor” e da revelação do “homem da iniquidade”.
A Grande Tribulação
O período escatológico chamado de “Tribulação” é uma época sem precedentes na história humana (Mt 24.21), sendo o período de 7 anos identificado como a 70ª semana de Daniel.15 O sofrimento infligido nesse período terá abrangência mundial (Ap 3.10). Isso torna a Tribulação um evento ímpar no estudo teológico.
• O INÍCIO DA TRIBULAÇÃO
O início desse período se dará quando “um príncipe que há de vir” (Dn 9.26) fizer “firme aliança com muitos” (Dn 9.27). Tal homem também é identificado, em outras partes, como o “chifre pequeno” (Dn 7.8,24,25) e como “homem da iniquidade” (2Ts 2.3);
Ele, que liderará uma coalizão de nações ocidentais naqueles dias, fará também uma aliança com Israel trazendo paz aos judeus. Devido a essa paz, o Templo será reconstruído na primeira parte da Tribulação (Dn 9.27 prevê que na primeira metade da Tribulação haverá “sacrifícios” em Israel, atividade feita exclusivamente no Templo);
Os primeiros 3½ anos terminarão com o “homem da iniquidade” declarando ao mundo sua divindade e se “assentando no santuário de Deus” (2Ts 2.4), possivelmente uma referência ao Templo de Israel.
• OS JUÍZOS
Apocalipse 6–19, texto que trata do período da Tribulação, descreve três sequências de juízos: selos, trombetas e taças, cada um em número de sete eventos. Se as três sequências se sucedem cronologicamente, se elas se sobrepõem, ou, ainda, se as trombetas e as taças são descrições dos selos, isso é matéria para muita discussão e muitas dúvidas.
A) Os selos
1) Primeiro selo (Ap 6.1,2): cavaleiro no cavalo branco que sai para conquistar. Pode indicar, bem no início da Tribulação, o domínio crescente do poder do “homem da iniquidade”. Esse domínio acontece bem quando as pessoas falam em “paz e segurança” (1Ts 5.3);
2) Segundo selo (Ap 6.3,4): cavaleiro no cavalo vermelho portando uma grande espada, trazendo o fim da paz e guerra entre os homens;
3) Terceiro selo (Ap 6.5,6): cavaleiro no cavalo preto com uma balança na mão, a qual representa um forte racionamento de comida devido a uma fome rigorosa.
4) Quarto selo (Ap 6.7,8): cavaleiro, chamado Morte, no cavalo preto. Ele traz morte, por meio da guerra, fome e pestes, a 1/4 da população mundial;
5) Quinto selo (Ap 6.9-11): iniciam-se a perseguição e o martírio daqueles que testemunharam o nome de Cristo na Terra.
6) Sexto selo (Ap 6.12-17): haverá eventos catastróficos como um grande terremoto, o escurecimento do Sol e da Lua, chuva de meteoros, montes e ilhas removidos do lugar e algo nos céus que dará aos homens a ideia nítida do juízo que Deus lhes envia;
7) Sétimo selo (Ap 8.1-6): Um grande silêncio, por meia-hora, seguido por trovões e terremotos que introduzem os sete juízos denominados “trombetas”.
B) As trombetas
1) Primeira trombeta (Ap 8.7): fogo misturado a sangue cai do céu e queima 1/3 da terra, das árvores e das plantas;
2) Segunda trombeta (Ap 8.8,9): algo de natureza inexplicável causa a destruição de 1/3 do mar, da vida marinha e das embarcações.
3) Terceira trombeta (Ap 8.10,11): 1/3 da água potável é afetado trazendo grande sede e morte aos homens;
4) Quarta trombeta (Ap 8.12,13): danos causados ao Sol, à Lua e às estrelas provocando perda de luz para a Terra tanto de dia como de noite;
5) Quinta trombeta (Ap 9.1-12): primeiro “ai”. Difícil de definir do que exatamente se trata o abismo e os gafanhotos, visto que Ap 9 é o capítulo que mais contém a palavra “como”, introduzindo símiles no lugar de uma descrição literal dos fatos. De qualquer modo, haverá, por 5 meses, um tormento indescritível sobre os incrédulos;
6) Sexta trombeta (Ap 9.13-21): segundo “ai”. Haverá a morte de 1/3 da população mundial.16
7) Sétima trombeta (Ap 11.15-19): Terceiro “ai”. Há um anúncio de que o fim está próximo e que é chegado o momento do Senhor reinar na Terra. Mesmo assim, ainda haverá 7 taças da ira de Deus a serem derramadas, talvez, nas últimas semanas da Tribulação (Ap 16.1-21), sendo que todas as taças são derramadas ao mesmo tempo sobre a Terra (Ap 16.1).
C) As Taças
1) Primeira taça (Ap 16.2): feridas terríveis acometem os incrédulos;
2) Segunda taça (Ap 16.3): destruição do mar e morte completa dos seres marinhos;
3) Terceira taça (Ap 16.4-7): toda a água potável será afetada trazendo um juízo tremendo pelo sangue dos justos que foi derramado;
4) Quarta taça (Ap 16.8,9): a intensidade dos raios solares é tão grande que passa a queimar os homens;
5) Quinta taça (Ap 16.10,11): algo descrito como “o trono da besta será afetado e seu reino ficará em trevas” causará ódio ainda maior dos incrédulos por Deus;
6) Sexta taça (Ap 16.12-16): o rio Eufrates secará. De certo modo, isso facilitará a travessia dos exércitos dos reis do Oriente (cf. Dn 11.44);
7) Sétima taça (Ap 16.17-21): completam-se todas as coisas e ocorre o maior terremoto de todos os tempos causando inúmeras destruições. Caem dos céus, também, pedras de cerca de 35 quilos provocando terrível destruição e blasfêmias contra Deus por parte dos incrédulos.
• OUTROS EVENTOS DA TRIBULAÇÃO
A) Os remidos
Quando o quinto selo é aberto (Ap 6.9-11) iniciam-se a perseguição e o martírio daqueles que testemunharam o nome de Cristo na Terra. Sabendo que todos os crentes foram arrebatados antes da Tribulação, podemos notar esses que serão perseguidos crerão em Cristo durante aquele período.
Portanto, o evangelho será pregado nessa época possivelmente pelos servos de Deus que foram selados. Trata-se de 144 mil judeus solteiros do sexo masculino (Ap 7.3-8; 14.1-4) e são chamados de “servos do nosso Deus”.
Eles certamente não serão os únicos a pregar naqueles dias. Outros pregarão e serão perseguidos e mortos (Mt 24.9).17 Mesmo assim, o evangelho será pregado por toda parte e haverá conversões (Mt 24.14).
B) Ataque frustrado a Israel
Durante o período de aparente paz (provavelmente no final dele), uma confederação do norte atacará Israel (Ez 38–39). Os possíveis participantes, segundo Ez 38.1-6, são Rússia (Gogue e Magogue), Irã (Pérsia), Sudão (Etiópia), Líbia (Pute), Ucrânia (Gômer), Turquia e Síria (Togarma). Esse ataque ocorrerá depois do tratado de paz, quando os israelitas habitarem sua terra tendo retornado do exílio mundial. Haverá protestos da parte do Ocidente e da Arábia Saudita (Ez 38.13).18 Essa coligação será derrotada por intervenção divina (Ez 38.21,22) e levará 7 meses para enterrar os mortos (Ez 39.12). Tal destruição dos inimigos causará um grande testemunho para o mundo e para os israelitas incrédulos (Ez 38.23; 39.7,13,21-24). É possível que esse evento tanto traga o “homem da iniquidade” para atuar dentro da Palestina como produza conversões entre os israelitas e a consequente perseguição do “homem da iniquidade” por desejar uma adoração que não pode mais ter devido à fé dos que creram.
C) As duas testemunhas
Durante a primeira metade da Tribulação, duas testemunhas desenvolverão uma atividade de proclamação como de profetas (Ap 11.3-13). Farão isso por 1.260 dias (primeiros 3½ anos da Tribulação) e parecem exercer poder sobre a natureza (vv.3-6). Cumprida sua tarefa e seu tempo, a besta (o homem da iniquidade) vai vencê-las e deixar seus corpos expostos em uma praça de Jerusalém (vv.7-9). Durante 3 dias e meio, haverá festa pela morte das testemunhas, mas, ao final disso, elas serão ressuscitadas e levadas ao céu. Um décimo da cidade será destruído causando a morte de 7 mil pessoas (vv.10-13).
D) Atuação do homem da iniquidade (a besta)
A primeira parte da Tribulação tem o “homem da iniquidade” como um líder capaz de resolver problemas entre nações trazendo-lhes paz. Entretanto, o evento descrito em Dn 9.27 demonstra seu real caráter e dá início à segunda metade da Tribulação.
A partir de então, a besta se assentará no santuário de Deus e como Deus se apresentará, exigindo ser adorado (2Ts 2.3,4). Não é sem motivo que a besta se apresentará como Deus, pois Satanás lhe dará poder e autoridade (Ap 13.2), além de poderes sobrenaturais (2Ts 2.9). Durante essa época, a besta será “ferida de morte”, mas sua recuperação inacreditável fará com que seja seguida por muita gente, que também adorará a Satanás (Ap 13.3,4).
Na sequência, nos próximos 42 meses (3½ anos), a besta agirá com poder e engano, perseguindo e vencendo os crentes e sendo adorada pelo mundo todo (Ap 13.5-8). Haverá também, por parte do homem da iniquidade e das nações que o servem, a perseguição e destruição da igreja apóstata/ecumênica (Ap 17.16).
E) A segunda besta (falso profeta)
Para promover seus intentos e a adoração a si, a primeira besta (o homem da iniquidade) faz surgir uma segunda besta (falso profeta). A segunda besta em momento algum promove a si mesma, mas ao homem da iniquidade (Ap 13.11-18). Tem a autoridade da primeira besta e realiza sinais (vv.12,13). Vai exaltar o fato de a primeira besta não ter sucumbido diante da ferida mortal (v.14).19 Fará uma imagem da besta e lhe dará vida (ou a aparência de uma imagem viva) a fim de atrair adoração (v.15). Finalmente, cria uma marca que somente os adoradores da besta receberão e com a qual poderão realizar operações comerciais (vv.16-18).
F) A igreja apóstata/ecumênica
No período da Tribulação, atuará uma igreja apóstata (será disso que trata a apostasia de 2Ts 2.3?) chamada de grande meretriz.20 Apocalipse 17 fala sobre tal igreja demonstrando se tratar de uma instituição rica (v.4), modelo de outras instituições ligadas a ela (v.5), que se alegra com a perseguição e morte das testemunhas de Jesus (v.6). Essa instituição tem uma abrangência mundial (v.15) e sucumbirá diante do homem da iniquidade e das nações a ele associadas (v.16).
• O ARMAGEDOM
No final da Tribulação, reinos do Norte e do Leste virão sobre Israel, facilitados pela seca do Eufrates, à planície de Esdraelon, defronte ao monte Megido (do hebraico har megiddô). Trata-se de um vale que medecerca de 30 x 20 km. Outros locais de conflito serão Jerusalém (Zc 12.9; 14.12; 14.4) e Bozra – atual Petra – (Is 63.1-6). Essas três regiões compreendem o Norte, o Centro e o Sul de Israel, respectivamente.
No meio da batalha, o Senhor Jesus voltará com seus exércitos celestiais e derrotará os exércitos terrenos (Ap 19.11-21). O morticínio será indescritível (Ap 14.20; 19.17,18).
O Reino Milenar
Dois erros são comuns ao se tratar do reino de Cristo. Um deles é considerá-lo cumprido na primeira vinda de Cristo, já que as promessas a Davi não se cumpriram nessa ocasião (2Sm 7.11-16). Outro deles é considerar a soberania de Cristo, que reina sobre tudo, como o cumprimento atual da promessa do reino, já que o que foi prometido não é apenas seu reinado soberano sobre a criação, mas seu reinado sobre o trono específico de Davi (Lc 1.31-33). O fato é que o reino de Cristo ainda não aconteceu e a falta dessa compreensão é antiga (Lc 19.11). Por isso, entendemos que esse é um reino que ainda há de ser instituído, período que recebe o nome de “milênio”, ou “reino milenar de Cristo”.
• A DURAÇÃO DO MILÊNIO
Apocalipse 20.2-7 diz seis vezes que o tempo do milênio é de “mil anos”. Apesar de estudiosos de outras linhas doutrinárias e hermenêuticas afirmarem que o termo “milênio” é simbólico e representativo, a repetição insistente da expressão “mil anos” demonstra sua literalidade e importância.
• O GOVERNO DO MILÊNIO
a) Tipo de governo — Será uma teocracia, assim como havia em Israel entre a saída do Egito (1446 a.C.) e a instituição da monarquia (1051 a.C.). Jesus reinará de maneira visível sobre a humanidade (Dn 7.14) com poder absoluto (Ap 19.15). Haverá justiça completa (Is 11.4);
b) O centro do governo — Jerusalém será a sede desse governo (Is 2.3). A cidade será exaltada (Zc 14.10) e gloriosa (Is 24.23), para sempre segura (Is 26.1-4) e nela repousará o templo (Is 33.20).21
c) Seus governantes — Um descendente de Davi será o rei, a saber, o Messias (Jr 30.9; Ez 37.24,25 cf. Lc 1.31-33).22 A autoridade das doze tribos de Israel será entregue aos doze apóstolos (Mt 19.28). Haverá autoridade para outros príncipes (Is 32.1). A Igreja também terá participação no governo da Terra (Ap 5.9,10).
d) Os súditos do governo — Inicialmente são judeus e gentios redimidos que sobreviveram à Tribulação. Contudo, todos os recém-nascidos serão exatamente como os de hoje, necessitando de uma decisão pessoal, por meio da fé em Jesus, para serem também redimidos. A obediência política ao Rei não implicará transformação interior que vem da justificação. Assim, ser súdito e ser salvo, naquele tempo, serão duas coisas independentes. Esses, com corpos mortais, dividirão espaço com a Igreja ressurreta, em corpos glorificados e imortais (1Co 15.42-54).
• AS CARACTERÍSTICAS DO MILÊNIO
a) Justiça — Jesus exercerá um governo justo (Is 16.5; 32.1) e as punições serão imediatas (Is 11.4).
b) Paz — Haverá paz e unidade entre as nações (Is 19.23-25). Jerusalém desfrutará uma paz que desconhece há muito tempo (Zc 8.4,5), paz que se estenderá a toda a Terra (Is 2.4).
c) Prosperidade — A Terra será próspera e farta de alimentos (Am 9.13,14) e até os desertos serão produtivos (Is 35.1-7).
d) Religião — O conhecimento do Senhor será amplo sobre toda a Terra (Is 2.2,3). O templo de Jerusalém (Ez 40–48) estará em funcionamento e sacrifícios serão oferecidos. Alguns dispensacionalistas acreditam que tais sacrifícios terão valor memorial, enquanto outros acreditam que farão purificação cerimonial. Haverá a observância de dias e festas (Ez 46.1-15; Zc 14.16).
• OS JULGAMENTOS FUTUROS
a) Julgamento das obras dos cristãos — Embora não seja especificado, é provável que esse julgamento ocorra logo depois do Arrebatamento. As passagens principais que falam desse julgamento são 1Co 3.10-15 e 2Co 5.10.23 O chamado “tribunal de Cristo” julgará somente crentes, não para condenar qualquer um deles (Rm 8.1), mas para avaliar e premiar suas obras.
b) Julgamento dos santos do Antigo Testamento — Daniel 12.3 fala da premiação dos “sábios” (salvos) de modo geral associando tal acontecimento à ressurreição e condenação dos ímpios, o que, segundo Ap 20.11-15, acontecerá no final do milênio. Portanto, excluindo a igreja cuja ressurreição se dá no Arrebatamento (1Ts 4.13-17), parece que os santos do AT ressuscitarão e serão premiados somente no fim do milênio. Contudo, é importante notar que é comum profetas do AT falarem de um evento como se fosse único e o NT desmembrar seu cumprimento em mais de uma ocasião (revelação progressiva).
c) Julgamento dos santos da Tribulação — Apocalipse 20.4-6 fala da ressurreição dos que foram martirizados na Tribulação antes do início do milênio, visto que reinarão por “mil anos”. Não são mencionados julgamento ou recompensas, mas não há motivos para crer que não haja (a menção à atividade de reinar dá indícios de sua recompensa).
d) Julgamento dos judeus que sobreviverem à Tribulação — Judeus e gentios serão julgados depois da volta de Cristo e somente os crentes entrarão no milênio. O julgamento dos judeus é descrito em Ez 20.34-38 e ilustrado nas parábolas de Mt 25.1-30. Os aprovados desfrutarão das bênçãos da Nova Aliança (Ez 20.37) enquanto os reprovados não poderão entrar em Israel (Ez 20.38), mas serão lançados nas “trevas exteriores” (Mt 25.30).
e) Julgamento dos gentios que sobreviverem à Tribulação — Os gentios também serão julgados na vinda de Cristo (Mt 25.31-46). Joel profetizou que o local de tal julgamento é o “vale de Josafá” (Jl 3.2). Alguns acreditam que se trata do vale do Cedron. Contudo, pode ser uma referência não a um lugar, mas ao acontecimento, já que Josafá significa “Javé julga”.
f) Julgamento de Satanás e dos anjos caídos — Satanás e os anjos caídos serão julgados no final do milênio e condenados ao fogo eterno (Mt 25.41; Jd 6,7; Ap 20.10). Os santos participarão desse julgamento (1Co 6.3).
g) Julgamento dos mortos não salvos — No final do reino milenar de Cristo, todos os incrédulos mortos serão ressuscitados e julgados para condenação (Dn 12.2). Esse julgamento, também chamado de “ressurreição do juízo” (Jo 5.28,29), acontecerá diante do grande trono branco (Ap 20.11-15), onde Jesus será o juiz (Jo 5.22,27). Serão abertos livros das obras pecaminosas dos incrédulos, além do Livro da Vida, o qual não conterá o nome de nenhum deles. Serão condenados e lançados no fogo eterno (Mt 25.41). Esse é o fim da história. Ela dá, então, início à eternidade.