O Cristo Pré-Encarnado
A doutrina da Pessoa de Cristo (Cristologia) é crucial para a fé cristã. É básica para a soteriologia, pois, se nosso Senhor não era quem afirmava ser, então, seu sacrifício foi deficiente, não sendo suficiente para pagar pelos pecados da humanidade.
• A PREEXISTÊNCIA DO CRISTO PRÉ-ENCARNADO
A. O significado da preexistência de Cristo
Significa que Jesus existia antes de nascer como homem, antes mesmo até da criação do tempo. É um conceito paralelo, mas distinto da “eternidade”.
B. A importância da doutrina da preexistência de Cristo
1) No nascimento – Se Cristo veio a existir em seu nascimento, então, não existe uma Trindade eterna;
2) Na divindade – Se Cristo não era preexistente, então, não poderia ser Deus;
3) Nas declarações – Se Cristo não era preexistente, ele mentiu a respeito de quem ele era e, consequentemente, possivelmente teria mentido também sobre outros assuntos.
C. As evidências da preexistência de Cristo
1) Sua origem celestial – Versículos se referem à existência de Cristo antes do nascimento (Jo 3.13,31);
2) Sua obra na criação – Cristo estava envolvido na obra da criação, sendo anterior a ela (Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.2);
3) Seu relacionamento com Deus – A Bíblia afirma que Jesus tem a mesma natureza de Deus (Jo 10.30; Fp 2.6) e que possuiu a mesma glória do Pai antes de o mundo existir (Jo 17.5);
4) Seu relacionamento com João Batista – João Batista reconhece a existência de Jesus antes de ele vir a existir, mesmo tendo ele nascido antes do Jesus encarnado (Jo 1.15,30).
2- A ETERNIDADE DO CRISTO PRÉ-ENCARNADO
A. O significado da eternidade de Cristo
Jesus sempre existiu, eternamente. A eternidade e a preexistência andam sempre unidas, apesar de Ário ter afirmado a preexistência de Cristo e negado sua eternidade, ponto de vista defendido atualmente pelas Testemunhas de Jeová.
B. A importância da doutrina da eternidade de Cristo
Se a eternidade do Verbo é negada, então: (a) não existe Trindade; (b) Cristo não possui divindade absoluta; (c) ele mentiu.
C. As evidências da eternidade de Cristo
1) A essência de Cristo – Cristo é da mesma essência de Deus (Hb 1.3);
2) Os profetas – Os profetas anunciaram a eternidade de Cristo (Is 9.6; Mq 5.2; veja Hc 1.12);
3) A declaração de Cristo – Cristo afirmou sua existência eterna (Jo 8.58);
4) A declaração de João – O evangelista João claramente afirmou a eternidade do verbo (Jo 1.1).
A Encarnação de Cristo
• O SIGNIFICADO
Significa que a segunda pessoa da Trindade, que não possuía a natureza humana, se fez homem (Jo 1.14; 1Jo 4.2; 2Jo 7).
• AS PROFECIAS DA ENCARNAÇÃO
A. Sobre o Deus-homem
Isaías anunciou a união da Deidade e da humanidade no Senhor (Is 9.6). Ele fez o mesmo ao anunciar, pelo nome Emanuel (Deus conosco), a presença de Deus entre seu povo na pessoa do menino que nasceria (Is 7.14).
B. Sobre o nascimento virginal
Em Is 7.14 está predita a encarnação por meio de uma virgem.
• OS PROPÓSITOS DA ENCARNAÇÃO
a) Revelar Deus a nós (Jo 1.18; 14.7-11; Hb 1.3);
b) Prover um sacrifício efetivo pelo pecado (Hb 10.1-10);
c) Cumprir a aliança davídica (Lc 1.31-33 cf. 2Sm 7.11,16);
d) Dar exemplo de vida (1Pe 2.21; 1Jo 2.6);
e) Destruir as obras do diabo (1Jo 3.8);
f) Ser um sumo sacerdote misericordioso (Hb 4.14-16).
A Pessoa do Cristo Encarnado
• A FÓRMULA DE CALCEDÔNIA (451 A.D.)
“Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial ao Pai segundo a divindade, e consubstancial a nós segundo a humanidade; em todas as coisas semelhante a nós excetuando o pecado, gerado, segundo a divindade, antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para a nossa salvação, gerado da virgem Maria, mãe de Deus. Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, inseparáveis e indivisíveis. A distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência; não dividido ou separado em duas pessoas, mas em um só e mesmo filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor, conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o nosso mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos pais nos transmitiu.”
• A DIVINDADE ABSOLUTA DO CRISTO ENCARNADO
A) Ele possui atributos divinos como eternidade (Jo 8.58; 17.5), onisciência (Lc 6.8), onipotência (Mt 28.18; Jo 11.38-44) e imutabilidade (Hb 13.8);
B) Ele faz o que somente Deus é capaz de fazer, como perdoar pecados (Mc 2.1-12), dar vida (Jo 5.21), ressuscitar os mortos (Jo 11.43) e julgar todas as pessoas (Jo 5.22,27);
C) Ele recebeu nomes e títulos divinos, como “Filho de Deus” (Jo 10.36), “Senhor” (Mt 22.43-45; Rm 10.9,13), “Deus” (Jo 1.1; 20.28; Hb 1.8) e “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16);
D) Ele afirmou ser Deus (Jo 10.30).
• A PERFEITA HUMANIDADE DO CRISTO ENCARNADO
A) Ele possuía um corpo humano que cresceu e se desenvolveu (Lc 2.52) e chamava a si mesmo de homem (Jo 8.40);
B) Ele estava sujeito às limitações e sentimentos de um ser humano, como fome (Mt 4.2), sede (Jo 19.28), cansaço (Jo 4.6), compaixão (Mt 9.36) e tristeza (Jo 11.35).
• A UNIÃO DA DIVINDADE E DA HUMANIDADE NO CRISTO ENCARNADO
A união das duas naturezas de Cristo é chamada de “união hipostática”. É um dos conceitos mais difíceis de se entender da teologia cristã.
A) O significado de “natureza” – É um conjunto de atributos. Jesus mantinha todos os atributos divinos e todos os atributos de um perfeito ser humano;
B) O caráter da união – As duas naturezas de Cristo estavam unidas, sendo inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis e formando uma única pessoa.
C) A comunhão dos atributos – Os atributos das duas naturezas estavam presentes em uma só pessoa, sem misturar as naturezas ou dividir a pessoa. Isso nos ajuda a entender como Jesus era fraco, mesmo sendo onipotente, e limitado, mesmo sendo infinito.
As Funções do Cristo Encarnado
• CRISTO COMO PROFETA
A) A designação de Cristo como profeta – O AT previa a atuação de Jesus como um profeta (Dt 18.15) e é identificado no NT como tal (At 3.22-24) e também como Rabi (Jo 1.38;3.2). O próprio Jesus afirmou ser um profeta (Mt 13.57; Mc 6.4; Lc 4.24 e 13.33; Jo 4.44) e entregava aos homens a mensagem de Deus assim como faziam os profetas (Jo 8.26; 12.49-50; 15.15; 17.8);
B) A atuação de Cristo como profeta – Jesus proclamou a mensagem de Deus pela pregação e pelo ensino (Mt 4.17; 7.29). Para isso Jesus aproveitava as sinagogas (Mc 1.21) e ambientes ao ar livre quando não tinha um local fechado disponível (Mc 4.1). Sua pregação era repleta de ilustrações (Mt 24.40-41; Lc 15.4,8) e cheia de perguntas (Mt 22). Diferente da dos escribas e fariseus, sua pregação possuía autoridade (Mc 1.22);
C) A autenticação de Cristo como profeta – A confirmação das profecias de Cristo mostra que de fato ele falava palavras verdadeiras que vinham de Deus, como ao prever que seria traído por alguém próximo (Mt 26.21), que seria entregue à morte pelos líderes dos judeus (Mt 16.21) e que morreria crucificado e ressuscitaria no terceiro dia (Mt 20.19).
• CRISTO COMO SACERDOTE
A) A ordem de Melquisedeque – Jesus foi sacerdote da ordem de Melquisedeque (Hb 5.6,10; 6.20 cf. Sl 110.4). Isso não quer dizer que Melquisedeque era Jesus (Hb 7.3), mas que o sacerdócio de Jesus é superior ao sacerdócio levítico (Hb 7.4-19);
B) A atuação de um sacerdote – Jesus, como sacerdote, atua na mediação entre os homens e Deus por meio de um sacrifício (1Tm 2.5-6; Hb 7.22-28).
• CRISTO COMO REI
A) A profecia – Isaías profetizou o nascimento de uma criança que se estabeleceria no trono de Davi e reinaria sobre ele (Is 9.7);
B) O anúncio – Gabriel anunciou a Maria o que Isaías tinha profetizado (Lc 1.32-33);
C) A aclamação – Jesus foi aclamado pelo povo como rei (Jo 12.13-15);
D) A declaração – Jesus declarou ser rei (Mt 27.11).
O Autoesvaziamento de Cristo
• A ORIGEM DO CONCEITO
Essa questão está ligada à palavra derivada de kenosis contida em Fp 2.7.
“Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana” (ARA).
“Mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens” (NVI).
“ἀλλὰ ἑαυτὸν ἐκένωσεν1 μορφὴν δούλου λαβών, ἐν ὁμοιώματι ἀνθρώπων γενόμενος· καὶ σχήματι εὑρεθεὶς ὡς ἄνθρωπος” (Nestle-Aland Greek New Testament).
A pergunta é: “Ele se esvaziou do quê?”
A) Sínodo de Antioquia (341 A.D.) – Afirmou que Cristo se esvaziou de “ser igual a Deus”, mas defendia a divindade absoluta de Cristo;
B) Reforma Protestante –Discutiu se Cristo teria se esvaziado de seus atributos como onipotência, onipresença e onisciência sem, contudo, afetar sua divindade;
C) Teologia do século 18 – Alguns estudiosos afirmaram que Cristo se tornou menos que Deus.
• O VERDADEIRO SIGNIFICADO DESSE CONCEITO
A) A Passagem central
A passagem central da kenosis é Fp 2.5-11.
Almeida Revista e Atualizada (ARA) | Nova Versão Internacional (NVI) |
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; 7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, 8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. | Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, 6 que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; 7 mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. 8 E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! 9 Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. |
B) A natureza original de Cristo
O v.6 apresenta Cristo antes da encarnação existindo em “forma de Deus”. A palavra grega μορφή (morphé) significa “natureza”, “forma visível”, forma pela qual uma pessoa ou uma coisa atingem a visão, “a aparência externa”, “a natureza ou o caráter de algo, com ênfase na forma interna e externa”. Em outras palavras, é a “substância de um ser ou de algo”.
A mesma palavra aparece em Mc 16.12. Nesse caso, a μορφή aponta para uma forma diferente da qual Jesus era comumente reconhecido. Entretanto, no caso de Deus que não tem uma forma corpórea, μορφή nos revela que Jesus é da mesma substância ou natureza de Deus. Jesus não existia na pré-encarnação como um ser que não fosse “exatamente Deus”.
C) O autoesvaziamento
Foi algo que o próprio Cristo impôs a si mesmo. O autoesvaziamento de Cristo envolve tudo que ele fez para morrer na cruz, incluindo assumir a forma de servo. Ao fazer isso, Jesus foi encontrado em figura humana (σχήμα – skema). Isso indica que ele tinha a aparência de um homem e uma vida como a de um homem. Assim, sendo completamente Deus, Jesus passou a ser em tudo como um homem, com exceção apenas do pecado. Sobre os conceitos de μορφή e σχήμα, Joseph B. Lightfoot escreveu:
“Sendo assim, que sentido nós devemos associar à ‘forma de Deus’, na qual nosso Senhor preexistia? Nas Homilias de Clemente, o apóstolo Pedro é representado como insistindo em passagens antropomórficas nas Escrituras e sustentando assim que Deus tem uma forma concreta (μορφή – morphé). Diante da objeção do seu oponente de que, se Deus tem uma forma (μορφή) deve ter também uma figura, uma aparência (σχήμα – skema), o apóstolo é forçado a responder aceitando a inferência: ‘Deus tem uma σχήμα; Tem os olhos e as mãos e os pés como um homem; não obstante, não tem nenhuma necessidade de usá-los’ (Clem. Hom. xvii. 3,7,8).
Não era essa a concepção do apóstolo Paulo com respeito a Deus. Ele não poderia falar nesse sentido sobre a μορφή, nem poderia falar nesse sentido sobre a σχήμα, daquele que é o ‘Rei dos reis e o Senhor dos senhores, o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver (1Tm 6.15,16)’. Permanece então que μορφή deve aplicar-se aos atributos da divindade. Ou seja, é usado substancialmente no mesmo sentido que carrega na filosofia grega. Sugere a mesma ideia que é expressa de outra maneira em João por ὁ λόγος τoῦ θεοῦ (o Verbo de Deus), em escritores cristãos das épocas seguintes por υἱός θεοῦ ὢν θεός (o Filho de Deus que é Deus) e no Credo Niceno por θεός ἐκ θεοῦ (Deus de Deus).
Ao aceitar essa conclusão não é necessário supor que o apóstolo Paulo derivou conscientemente seu uso do termo de alguma nomenclatura filosófica. Havia especificidade suficiente, mesmo em seu uso popular, para sugerir esse sentido quando isso foi transferido dos objetos dos sentidos às concepções da mente.
Ainda que o apóstolo João tenha adotado λόγος (palavra) e o próprio apóstolo Paulo tenha adotado εἰκών (imagem) e πρωτότοκος (primogênito) da linguagem das escolas teológicas existentes, parece muito longe do improvável que a expressão análoga μορφὴ θεοῦ (forma de Deus) tenha sido derivada de uma fonte similar. As especulações dos judaísmos alexandrino e gnóstico formaram um meio pelo qual os termos filosóficos da Grécia antiga foram trazidos ao alcance dos apóstolos de Cristo.
Assim na passagem sob a consideração, o μορφή é contrastado com o σχῆμα, como aquele que é intrínseco e essencial com aquele que é acidental e para fora. E as três cláusulas implicam respectivamente a natureza divina verdadeira de nosso Senhor (μορφὴ θεοῦ – ‘forma da Deus’), a natureza humana verdadeira (μορφὴ δούλου – ‘forma de servo’), e o exterior da natureza humana (σχήματι ὡς ἄνθρωπος – ‘figura humana’).”
O autoesvaziamento de Cristo é o caminho que ele fez saindo da glória e majestade celestial e terminando essa jornada em humilhação e vergonha na cruz do Calvário. Nesse processo está inclusa a encarnação como meio de levá-lo à morte substitutiva.
Esse processo em nada afeta a divindade de Jesus, nem o uso dos seus atributos divinos. Em vez disso, o autoesvaziamento fez com que o verdadeiro Deus morresse em humilhação, na condição de um homem, para salvar homens perdidos.
Portanto, na kenosis Cristo se esvaziou e abriu mão de manter sua condição condizente com a divindade, ou seja, viver na glória celestial, e assumiu a humanidade para que pudesse morrer.
• TEORIAS FALSAS SOBRE A ‘KENOSIS’
A) Cristo abriu mão de alguns ou de todos os seus atributos divinos
Essa ideia não é sustentável por várias razões:
• Jesus, em carne, afirmou ser igual a Deus (Jo 10.30);
• Se Jesus passou a ser menos divino, houve então uma alteração na pessoa de Deus, conceito que colocaria a própria divindade em xeque, já que “Deus não muda” (Tg 1.17);
• O aspecto substitutivo da morte de Jesus exige que ele seja perfeito homem, ao mesmo tempo que os aspectos propiciatório (satisfez as exigências de Deus) e redentor (resgatou por meio de pagamento) da sua morte exigem que ele seja perfeito Deus a fim de sanar um débito das dimensões do próprio Deus.
B) Cristo parecia ser homem, pois disfarçava sua divindade
Cristo não disfarçou sua divindade. Ele apenas assumiu a humanidade. As Escrituras demonstram que a divindade podia ser reconhecida nele (Jo 1.14; 14.9; Hb 1.3).
A Impecabilidade de Cristo
• O SIGNIFICADO DA IMPECABILIDADE DE CRISTO
Impecabilidade significa que Jesus jamais fez qualquer coisa que desagradasse a Deus, que violasse a lei ou que tenha deixado de demonstrar a glória de Deus em sua vida (Jo 8.29).
• O TESTEMUNHO DA IMPECABILIDADE DE CRISTO
As Escrituras dão testemunho da vida sem pecado de Jesus. Ele foi chamado santo desde seu nascimento (Lc 1.35). Jesus desafiou seus inimigos a provarem que ele tinha pecado (Jo 8.46). Nada que Jesus falou pode acusar-lhe justamente (Mt 22.15). Ele guardava os mandamentos (Jo 15.10). Nos momentos em que precederam a crucificação foi declarado inocente onze vezes (Mt 27.4,19,24,54; Lc 23.14,15,22,41; Jo 18.38; 19.4,6). Paulo atestou a impecabilidade de Cristo (2Co 5.21), assim como Pedro (1Pe 1.19; 2.22); João (1Jo 3.5), o autor de Hebreus (Hb 4.15; 7.26,27).
• O DEBATE SOBRE A IMPECABILIDADE DE CRISTO
Há uma antiga discussão sobre a possibilidade ou não de Jesus cometer pecados em seu ministério terreno. O conceito de que Jesus não podia pecar se chama “impecabilidade” (non posse peccare) e o conceito de que ele podia pecar, mas não o fez se chama “pecabilidade” (posse non peccare).
Quem defende a pecabilidade de Cristo o faz com base na afirmação de que, se ele foi tentado, é porque poderia pecar; e, se isso não fosse possível, não poderia ser dito que a tentação foi real (um defensor desse ponto de vista é Charles Hodge). Quem rejeita essa ideia e defende a impecabilidade refuta argumentando que a impecabilidade não anula o ato da tentação assim como a impossibilidade de um couraçado ser vencido por uma jangada não invalida os ataques da minúscula embarcação. Segundo esse ponto de vista, a impecabilidade não depende da “ausência de tentação”, mas da “ausência de vontade de pecar” (um defensor desse ponto de vista é William Shedd).
• A NATUREZA DAS TENTAÇÕES DE CRISTO
A Bíblia afirma que Cristo foi tentado como um ser humano (Hb 4.15). A dificuldade de algumas linhas aceitarem isso é o fato de Tiago afirmar que Deus não pode ser tentado (Tg 1.13). Aparentemente, diante disso, ou Cristo não é Deus ou não foi tentado. Como nenhum teólogo conservador está disposto a atacar a divindade de Cristo, a discussão é sobre se Cristo foi ou não tentado e se ele podia ou não ceder à tentação. São dois debates distintos que se entrelaçam e repousam sobre os mesmos fundamentos.
As tentações de fato ocorreram e foram apropriadas ao Deus-homem, visto que um homem qualquer não é tentado a transformar uma pedra em pão. Mesmo assim, Jesus foi tentado à semelhança dos homens. Para melhor compreensão da natureza das tentações de Cristo, é bom comparar o texto de 1Jo 2.16 com Mt 4.1-11, onde é possível perceber que, apesar de Jesus não ter sido tentado com cada tentação do mundo (como ser tentado a assistir um mau programa de televisão), ele foi tentado em todas as áreas comuns ao ser humano.
• OS PROBLEMAS DO CONCEITO DA PECABILIDADE DE CRISTO
Várias implicações indesejáveis surgem da defesa da pecabilidade de Cristo:
a) A imutabilidade – Se Cristo pudesse pecar, sua divindade estaria em xeque antes mesmo do pecado, pois não seria “imutável” (Is 9.6; Ml 3.6; 2Tm 2.13; Hb 13.8).
b) A soberania – Se Cristo pudesse pecar, temos de levar em conta a real possibilidade de isso acontecer. Se Jesus acabasse por cometer um pecado, nem ele seria Deus (devido ao mal nele), nem o Pai seria soberano, pois ficaria patente que não tem poder para controlar a história e manter seus planos (At 4.27,28).
c) As profecias – Caso Jesus cometesse algum pecado, a onisciência e a presciência de Deus não poderiam existir e todas as profecias sobre a obra de Cristo e a redenção dos homens cairiam por terra. No caso de Cristo poder pecar e não fazê-lo, tais profecias não passariam de otimismo (Mq 5.2; Is 53.6-9). Também perderiam completamente o sentido todos os textos que falam de determinações prévias de Deus sobre os redimidos (Mt 25.34; Ef 1.4). Por fim, sem plena certeza de que tais prenúncios realmente aconteceriam, Deus seria enquadrado entre os mentirosos (Tt 1.2; Hb 6.18).
d) A confiabilidade da redenção – Se Jesus pudesse realmente pecar, ser humano algum pode alguma vez ter uma justa confiança na redenção divina e ela correu o risco de falhar. Isso foge da clara esperança nas promessas de Deus (Gn 12.3).
A Ressurreição e a Ascensão de Cristo
• A RESSURREIÇÃO DE CRISTO
1 – A importância da ressurreição de Cristo
a) A ressurreição de Cristo confirmou a veracidade da sua palavra (Mt 20.19; 28.6), comprovando a credibilidade da sua obra;
b) Possibilitou que Cristo, vivo, atuasse diante da igreja como sumo sacerdote (Hb 4.15), advogado (1Jo 2.1) e cabeça (Ef 5.23);
c) Formou a base do evangelho que é pregado para a salvação dos pecadores (1Co 15.3-8), mediante o enfoque da justificação presente na ressurreição (Rm 4.25);
d) Deu esperança à igreja a respeito do seu futuro (1Co 15.13-19).
2 – As evidências da ressurreição de Cristo
a) Jesus apareceu para muitas pessoas depois de ressuscitar (At 2.32). Ele apareceu para as mulheres (Mt 28.8-10); para Pedro (Lc 24.34; 1Co 15.5), para os discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.13-32), para os discípulos (Jo 20.19-25), para Tomé (Jo 20.26-29), para os discípulos no mar da Galileia (Jo 21.1-24), para Tiago (1Co 15.7), para mais de quinhentas pessoas de uma só vez (1Co 15.6) e para Paulo (1Co 15.8). Quando esses relatos foram escritos, a maioria dessas testemunhas estavam vivas e podiam ser consultadas sobre o evento, apontando para a veracidade dos relatos da ressurreição;
b) A radical mudança de atitude e a visível determinação dos discípulos depois da ressurreição são grandes evidências de que algo muito marcante aconteceu. Compare Mt 26.69-75 com At 5.27-32. Compare também Jo 20.19 com At 5.40-42.
• A ASCENSÃO DE CRISTO
1 – As declarações sobre a ascensão de Cristo
a) No Antigo Testamento há duas referências (Sl 68.18 cf. Ef 4.8; Sl 110.1 cf. At 2.34,35);
b) Jesus anunciou que iria para o Pai (Jo 7.33; 14.12,28; 16.5,10,28) e que ascenderia ao céu (Jo 6.62; 20.17);
c) Lucas relata a ascensão de Cristo (Lc 9.51; 24.51; At 1.6-11);
d) Os apóstolos falaram da ascensão (Ef 4.10; 1Tm 3.16; Hb 4.14; 1Pe 3.22) e do atual estado de exaltação (Cl 3.1).
2 – A descrição da ascensão de Cristo
a) Jesus ascendeu aos céus estando ele e os discípulos sobre o Monte das Oliveiras (At 1.12), mais especificamente na vertente leste que fica para o lado de Betânia e não de Jerusalém (Lc 24.50);
b) Jesus literalmente foi elevado gradualmente às alturas, à vista dos discípulos, até que uma nuvem o encobriu e ele não mais foi visto (At 1.9);
c) Anjos surgiram e prometeram que Jesus voltaria corporal e visivelmente no futuro, assim como havia sido elevado à vista deles (At 1.11).
3 – O significado da ascensão de Cristo
A ascensão marcou o fim do ministério terreno de Cristo e da sua atuação humilhante como servo a fim de resgatar seu povo. Foi o início do seu ministério como cabeça da igreja e intercessor, além de ter iniciado o período de espera para sua volta gloriosa para julgar e reinar.